23.10.10

De repente, lembrei...

Há tanto tempo fazendo do computador um parceiro inseparável (e necessário, admito!), quase não tenho o mesmo tempo para uma prática constante nesses 20 anos: escrever - riscar - por palavras - 'me' traduzir usando caneta e papel preparado, qualquer... salvo minha agenda, que sofre com meus momentos/rompantes numa literatura que beira ao realismo [romântico] dos meus 'sentires', para muitos intraduzíveis (rs)!
De repente, lembrei com saudades do que disse certa vez um jovem mancebo - há muuuuuuito, mas muito tempo - trazendo nas mãos um pedaço de papel com breves e apaixonantes palavras que falavam do seu fascínio (que também é meu!) por esse ato. Não é um simples 'escrever', mas muito de nós vai junto nessa prática!
Ps: Engraçado que também de repente - não sei por que 'cargas d'água' - fez-me lembrar e questionar (a partir de observações) sobre qual o mais "genioso"!
Coisas de uma rasa!

20.10.10

Entre 'sim' e 'não', o país tem um "Estatuto da Igualdade Racial"


Há anos o Estatuto da Igualdade Racial (Lei 12.228/2010) vem sendo discutido e motivo de muitos embates. Em julho deste ano foi sancionado pelo Presidente da República e hoje, entrou legalmente em vigor. Dentre as diretrizes estão 65 artigos que devem atingir cerca de 90 milhões de pessoas, tratando de campos distintos como: saúde, cultura, educação, esporte e lazer, direito à liberdade de consciência e de crença e ao livre exercício dos cultos religiosos, acesso à terra e à moradia adequada, trabalho e outros.
Antes da sanção o Estatuto gerou uma infinidade de críticas, manifestos contrários e revoltas por conta de mudanças que precisaram ser feitas para que o documento fosse aprovado/sancionado e assim, no final, acabasse por deixar uma parcela satisfeita e outra nem tanto. Não vou aqui comentar de todo minha humilde opinião sobre esse assunto, pois significaria bater de frente com certas posturas não menos justas, mas cujo fim nem sempre justificam os meios. So just!

A grande discussão dentro das modificações girou em torno das cotas. Daí, sob as vértices de sinhá, pode-se refletir: as cotas foram um marco e caminho necessários, mas não devem se 'eternizar'. Na luta por um Brasil mais igual não se pode querer que os filhos dos que são/foram cotistas também entrem na universidade pelo mesmo viés, já visualizando esse caminho como única alternativa; e sim, que venham a competir com igualdade de oportunidades, de condições. Para isso, políticas públicas, ações distintas, focadas devem ser feitas e agilizadas; sem brigas por entidades que querem ter seu quinhão na parte, ou que se sustentem única e exclusivamente atraves de projetos que não prosseguem, logo não concluem o objetivo proposto. A causa é maior!
Não se muda uma herança colonial da noite para o dia e justamente por isso, promover a mudança implica em trabalhos contínuos. Todos tem vez e voz e podem/devem contribuir. Que há divisões, jogos de interesse e muita gente grande envolvida, é fato. Mas se não houvesse, dificilmente se chegaria ao que se tem na atualidade, incluindo uma Secretaria (hoje Ministério). Portanto, sem desmerecer os muitos e grandes nomes do movimento negro e entidades que efetivamente trabalham para que as mudanças acontecam (fora os favoritismos que as imputam 'politicamente', as/os influentes); mas principalmente por eles, vamos carregar essa bandeira e fazer nossa parte!

Sob esse aspecto, é oportuno citar o fato de estarmos na reta final de um período eleitoral, que tem sido muito questionado pelo movimento negro nacional pela omissão por parte de todos os candidatos à presidência, reforçada no segundo turno, para as questões raciais. O Censo 2010 está ai para comprovar o quão negro é o Brasil e quão erroenamente desigual também! Alguns diriam que a omissão é proposital e falar sobre isso implicaria em uma possível complicação quanto à perda de "votinhos básicos", afinal, para muitos ainda não é interessante igualdade - racial, econômica, social e etc. Diriam também que as bases tanto governista quanto oposição - representantes do movimento negro e com acesso direto e indireto -, não estariam interessados num confronto imediato ou poderiam sofrer algumas perdas (pessoais, coletivas...) cujo risco é melhor evitar; e "que se fale de Igualdade Racial quando as eleições passarem".
Estariam os que criticam de todo errado em suas palavras? Sim e não! Mas tenho lá minhas considerações sobre (não é difícil somar 2 + 2...!). O fato é que ninguém fala nem se compromete e as entidades do movimento estão se unindo (na condição de dar apoios) na cobrança de um maior comprometimento em torno dessa questão.


Em mais de um ano de campo, convivendo, aprendendo e observando o cotidiano de uma comunidade negra e suas práticas, posso dizer que nunca as diretrizes do Estatuto fizeram tanto sentido sob alguns pontos. Agora, pra que esse se amplie é preciso que tais diretrizes se efetuem e ai, há toda uma cadeia em volta de ações, pessoas, órgãos, academia e outros num trabalho conjunto.
A continuação da pesquisa, mesmo depois de formada e os muitos momentos de aprendizagem com a sinhá tem sido valiosíssimos para mim enquanto pesquisadora e também agente social nesse processo no qual me inseri; e entre idas e vindas, um consenso: nunca a universidade esteve tão preta e negros tiveram mais e melhor condições e acesso a bens materiais e imateriais também, há um tempo inimagináveis. Não devemos ignorá-los. Claro, não podemos ser utópicos e achar que está tudo resolvido ou se resolverá num passe de mágica com o Estatuto. Nesse 'universo negro' há muitos e muitas e nesse meio, um objetivo 'par' (leia-se: interesse conjunto!). Faltam adequações, posturas mais comprometidas, uma maior abertura para aqueles que de fato produzem; tem-se um longo e árduo caminho pela frente. Porém, um grande avanço foi dado e reconheçamos isso de forma positiva e comemoremos!

Que o Estatuto consiga cumprir seus objetivos (ou pelo menos grande parte dele) e ser um norteador importante na construção de um país mais igual, com condições iguais para todos! Para conhecê-lo na íntegra, basta entrar na página da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR).
Parafraseando um cdx, Hasta!

13.10.10

o barroco baiano, na 2a Atenas!

'Ao Luar' - Gregório de Matos

"Quando, à noite, o Infinito se levanta
À luz do luar, pelos caminhos quedos
Minha tátil intensidade é tanta
Que eu sinto a alma do Cosmos nos meus dedos!

Quebro a custódia dos sentidos tredos
E a minha mão, dona, por fim, de quanta
Grandeza o Orbe estrangula em seus segredos,
Todas as coisas íntimas suplanta!

Penetro, agarro, ausculto, apreendo, invado
Nos paroxismos da hiperestesia,
O Infinitésimo e o Indeterminado...

Transponho ousadamente o átomo rude
E, transmudado em rutilância fria,
Encho o Espaço com a minha plenitude!"

***
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'Desarrollo' - de quem quiseres!

"Não só uma velha amizade, a confiança a transcender o visível, o suporte das muitas batalhas vencidas, a proteção
na paternidade. Mais: a estabilidade do poder 'de poder', do poder de 'ser' e a presença imposta na vontade 'do contínuo". Que audácia inquirir ou revelar o que no íntimo revelado sempre fora! No ''desarrollo'' dos caminhos, tudo vale mantendo-se o conveniente desejado. Ou não?!"

2.10.10

Não foi só 3 de outubro. Foi 3 de outubro!

Eu bem que tentei ser suscinta ao escrever esse texto, mas não consegui. Eleições só de 4 em 4 anos. So sorry! Comecei esse post dia 2 de outubro, ou seja, véspera das eleições. Ainda não havia sido confirmado o resultado, mas como (não) previam as pesquisas e contrariando muitos, deu 2° turno!
Ao assumir o Governo no dia 1°de janeiro de 2011 o próximo presidente vai estar sob o comando de uma economia em crescimento, um PIB que deve chegar a 7,5% ainda em 2010; uma inflação sobre controle, sediando a próxima copa do mundo dentre outros. Por outro lado, a crescente taxa de consumo que implica num maior (não necessariamente melhor) poder aquisitivo da população se não tiver atenção pode vir a ser um problema mais adiante (falta um link entre poder e manter), para além do desafio social, com indicadores que apontam números negativos ainda altissimos e continuarão a ser um desafio para os próximos anos - violência, educação, saúde, etc.

Confesso que essa eleição não trouxe o 'espírito (saudável) de disputas' - com embates pelo menos um pouco mais surpreendentes e também incisivos, com um diferencialzinho que fosse - que imaginei. Nunca vi tão morna e estática. Visualizo até Maquiavel retornando do século XVI e dizendo: "É! Eu bem sabia que, apesar das duras críticas, mesmo tendo em vista a época, minha obra continuaria a tomar corpo e voz!". O italiano que escreveu sobre o Estado e os governos de uma forma distinta, trazendo à campo como de fato eram - apesar de figurar numa época renascentista - não estava tão distante assim do que seria o que se pode chamar de 'pseudo política contemporanea'. No frigi dos ovos, tudo gira em torno do/por poder, que por sua vez implica em muitas outras esferas não menos desejadas! Detalhe: em nenhum momento desmerecendo aqueles que trabalham por uma mudança, por uma nova construção social e democrática no país, onde de fato todos tenham voz e vez!

Nessas eleições, das muitas discussões que ouvi, ninguém escapou: os programas de Serra e Dilma eram parecidos; não seria a Marina a governar, caso eleita, e sim, determinada figura do PV; da mesma forma no caso da Dilma, quem governaria seria o Lula. Aliás, Dilma venceu também nos discursos alheios: sua escolha foi uma espécie de plano B, porque o Dirceu estava manchado por conta do mensalão; que será facilmente manipulada; que foi construída pelo PT para disputar as eleições...mas há também quem acredite que o tiro sairá pela culatra e ela colocará as mangas de fora, dando uma volta em todo mundo e tomando gosto pelo poder, assim como a polidez e mansidão da ex-ministra é/foi uma capa criada e que a 'mãe dos pobres' nada mais seria que um sargento disfarçado.
No caso do Serra, que se perdeu ao não aceitar a presença do FHC, ao se precipitar e tomar algumas decisões erradas, prejudicando-o na campanha por não querer 'dever favores'; ao querer ser o 'Zé' e, principalmente, por não adotar a postura de 'Oposição' e sim, também de continuação (o que teria lhe tirado alguns eleitores fieis e antipetistas).
Os demais candidatos mais pareciam estar nessa labuta que é a corrida eleitoral pra contrapor em alguma medida com os demais e, por que não, descontar alguns poucos votos. All is possible?

Talvez seja muita pretensão minha discorrer mais uma vez sobre esse assunto, mas sempre ouvi que em política, os inimigos de hoje são os aliados de amanhã e vice e versa; e não é difícil imaginar a conjuntura que se formará na plataforma do próximo governo, que independente de quem for, terá, de certa forma, as mesmas medidas: as alianças, os acordos prévios, as concessões que são planejadas ou acordadas bem antes de a corrida oficial começar, e que só não se consolida em casos muito especiais; os partidos que deverão compor através das indicações, mesmo que essas nem sempre sejam do agrado de quem está no poder, afinal, foi preciso a aliança pra que se chegasse à vitória (ou pelo menos que se tentasse chegar a ela!) dentre outros. No fundo, a formação de uma teia de favores devidos é inevitável e os interesses formadores são a aranha a tecer a casa!

Também nunca escondi minha admiração pelo Lula e sua trajetória política quando ainda sindicalista, assim como reconheço algumas de suas 'afoitas' falas, posições, atos... Não, não acho que ele seja o 'senhor dos senhores' nem os 8 anos de governo foram perfeitos, mas não posso deixar de admirar a perspicácia e inteligencia (e por que não dizer também vaidade?) que fizeram-no o que hoje é e representa em âmbito nacional e global. As derrotas passadas deram-lhe o que muitos dos seus adversários doutores não conseguiram: aprender e apreender a política pela base e pelas laterais (dá pra entender o que quero dizer com isso?). Se permanecesse no antigo discurso dificilmente teria chegado à presidência; e se perdeu a referência esquerdista primada no início ou não são outros quinhetos que não me cabe (nem tenho cacife) pra discorrer.
Porém uma coisa é fato: Dilma não é Lula; e Serra é mais ferrenho do que quer aparentar.

Acredito que Dilma seja consciente que se sua vitória se confirmar, não terá sido mérito seu (temos que reconhecer!), e sim da representatividade do presidente Lula. Não fosse sua imagem ligada à dele e o discurso de 'nós fizemos', para além de outros detalhes (programas bem sucedidos - sejam eles continuação do governo anterior ou não! - e etc) sua vitória, se existisse, seria bem mais difícil. Já Serra, se por acaso virar o jogo, creio que se deverá em grande parte à migração de alguns votos verdes e também de uma metodologia diferente do 1° turno (se ele não aprender agora, não aprende mais!).
Independente de quem for eleito, não podemos esperar que se faça milagre, nem que todas as promessas serão cumpridas. O problema do Brasil ainda é remanescente do período colonial e não se muda do dia pra noite uma história como a nossa; mas o trabalho constante, a colaboração de todas as esferas, dentre as quais a sociedade, é um contributo decisivo no processo de mudança efetiva, positiva e democrática!

Sinceramente, não aponto o dedo pra nenhum, embora ainda veja o Serra como barrista. No caso da Dilma, não digo que a admiro nem o contrário; pois na realidade, pode-se conjecturar que sua real história política se construirá agora. Confesso que, apesar de muitas vezes sua figura transparecer receio, ela melhorou muito nos debates, nas respostas e postura e penso que não é tudo que se diz (de ruim!). Os bastidores dizem bastante, é verdade, mas diminuem e aumentam de acordo com os interesses; logo, muito do que se fala sobre Dilma quanto à sua severidade dentre outras coisas, pode até ter fundamento, mas ela também pode ser uma boa surpresa. Quando o Lula venceu a 1a eleição o Brasil ficou um caos por conta do medo que se tinha do que seria o seu governo, que já estava tachado como um desastre e aconteceu justamente o contrário. Só nos resta esperar pra ver. Acho que fica claro de quem foi meu voto,ne?
Foi um voto consciente, mas também solidário!

Que venha agora o 2° turno. Seja qual for o resultado, desejo boa sorte para o próximo presidente! Minha parte, enquanto cidadã, pesquisadora ...continuarei a fazer!
Se der Dilma, a resposta para se será a continuação, um novo começo ou tudo do avesso, os próximos 1.460 dias serão a resposta. Se der Serra, bem...que os prognósticos (ruins) não se repitam!