20.11.10

Dia em que a consciência tem cor!

Todos os 20 de novembro faço um post no blog em homenagem ao Dia da Consciência Negra. Já falei do dia, do por quê de ser Zumbi dos Palmares seu ''representante-mor'' e etc. Hoje, não me repetirei nos textos, nem mesmo me preocuparei em dissertar, como acadêmica, sobre tal tema, pois nesses dois anos de blog muitos foram os escritos em que o debati. Não. Ele é muito pessoal, sem pretensão de ser 'o texto'; e que traz à cena aqueles que são e serão 'o amanhã': os jovens!

Há alguns dias, tive a oportunidade de perceber de uma forma mais ativa o quanto esses 'personagens' de cotidianos distintos, porém com uma causa comum, são protagonistas desse universo negro e suas vicissitudes, deficiências, lutas, belezas, raízes...e o mais importante: são protagonistas com embasamento, conhecimentos téorico, prático e também (por que não dizer?) simbólico do que são as lutas e as conquistas do Movimento Negro brasileiro sob todas as suas nuances. Confesso que fiquei surpresa, por um lado; e muito feliz, por outro.
Fiquei surpresa, porque não tinha a noção, naquelas proporções, do quanto a juventude negra se inseria nessa luta; e claro, essa surpresa vem muito do que pude partilhar nesses mais de dois anos. Feliz, porque o que vi foram jovens - muito jovens - com uma disposição e um conhecimento de causa impressionantes, para alguém que, não desmerecendo ou rotulando, não imaginava a proporção em que se dava a inserção dessa juventude na luta por seus direitos, por melhorias, por reconhecimento (justo, vale dizer!) e direitos iguais - de condições e de participação também!

Diferente de muitos, não sou militante, coordenadora de nenhum movimento ou mesmo participante de uma forma efetiva nessa esfera das entidades do movimento negro brasileiro. Sou uma pesquisadora que entrou nesse universo de uma forma aparentemente 'ocasional', mas que, no fundo, era só aparente; pois havia raizes - minhas - muito fortes que precisavam, na hora certa, se manifestar. Assim, envolvi-me na causa por um ângulo distinto, mas não menos importante. Trabalho com velhos, jovens e com crianças. Um trabalho de formiguinha, é verdade, porém com uma apreensão 'filha da mãe', que me faz discorrer e me surpreender a cada passo dado (estamos sempre aprendendo!). Talvez por tudo isso, ao observar, apreender e, principalmente, aprender com aqueles jovens, tive uma concepção gigantesca do quão importantes, delicados e necessários são esses ''passos''. Mal sabem eles como aprendi! Mal sabem eles como ter participado daquele momento influirá nos jovens daquelas comunidades quilombolas. Mal sabem eles como, naquele momento, 'acasos' não se faziam presentes!

Sempre tive uma opinião à parte sobre as entidades do MN e seus coordenadores. Não generalizando, mas as disputas internas e também de vaidade, que se manifestam no que tange ao 'poder de poder', às influências e etc, nunca me atrairam numa possivel 'coligação'; sobretudo quando se observa pelo campo político, dos partidos e tudo mais. Mas isso é outra história que deixo para um outro momento. Quando não se está ativamente num processo como esse, ainda que proferindo uma opinião pessoal e assumidamente leiga, uma palavra ou afirmação sobre é, até certo ponto, desnecessário, para não dizer perigoso.

E assim, finalizo, desejando que os próximos '20 de novembro' possam representar mais que uma data que, no frigi dos ovos, é de reconhecimento de uma causa, de uma história: que eles representem a vitória de uma causa justa, da união de 'passos' transformados em realidade. Aos jovens que tive o prazer de conhecer, meus sinceros desejos de sorte, de sucesso nas suas movimentações, de continuidade com condições para a realização dos trabalhos aos quais esses vem desenvolvendo; e desde já eles tem em mim uma parceira. Hoje, coadjuvante nesse processo. Amanhã, são outros quinhentos (rsrs). :P

Como o contexto do meu trabalho é 'quilombola', deixo a letra Jogo de Angola, de Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, brilhantemente cantada por Clara Nunes:

"No tempo em que negro chegava fechado em gaiola, nasceu no Brasil quilombo e quilombola; e todo dia, negro fugia, puxando a curriola;
de estalo de açoite de ponta de faca e zunido de bala; negro volta pra argola, no meio da senzala
e ao som do tambor primitivo, berimbau mharakê e viola, negro gritava ''abre ala, vai ter jogo de angola''
(...)
E a dança que era uma festa pro dono da terra; virou a principal defesa do negro na guerra pelo que se chamou libertação;
e por toda força, coragem e rebeldia, louvado será todo dia, que esse povo cantar e lembrar o jogo de Angola, na escravidão do Brasil"

1 comentários:

CAMILA de Araujo disse...

Tem gente que nem humor negro vê com bons olhos né kkkkkkk