7.4.11

Liberdade, Independência: Omnirá

Trabalhar com cultura no Brasil não é nada fácil.
Trabalhar com cultura e inclusão social, ainda menos.
Trabalhar com cultura afrobrasileira ou como quiserem, com matizes africanas - num misto que engloba tradição, espaço geográfico e histórico não tão distintos assim, quando se fala de um país que mesmo nos seus extremos, teve ou tem traços negros, escravos, descendência (que traz muito das referências) - torna-se mais complicado ainda.
Primeiro, porque os conflitos começam no corpo do próprio grupo/entidade envolvido; segundo, porque o acesso a bens materiais (recursos) que viabilizem as apresentações, formações, divulgação, etc... é algo do tipo: "fulano é apadrinhado ou conhecido de cicrano e pode te encaixar na parada'' - o famoso QI (ps: em nenhum momento dizendo que dessa água não beberei!) e terceiro, que considero mais oportuno (senão essencial) a integração local; pelo menos, daqueles que são parte, para quem o trabalho é pensado, para o cerne do movimento em questão, que completa o 'conjunto da obra'.

Toda essa exposição é para falar de um grupo que desenvolve um trabalho de inclusão social e cultural com jovens de uma região abastada de São Luis: o bloco afro Omnirá.
O Maranhão possui muitos grupos que podem ser chamados de folclóricos ou tradicionais, dependendo da sua temática, e que vão, em muitos casos, sobrevivendo diante das dificuldades em manter seus projetos, em continuar sua trajetória. Alguns, trabalham na vertente cultural pura, mas outros, talvez uma maioria (?), desenvolvem trabalhos sociais paralelos, com inclusão de jovens, adultos, idosos, crianças e outros. O Omnirá é um desses grupos. Integrando uma associação, o bloco é formado por militantes do movimento negro do município da Baixada Maranhense, Cururupu, com sede hoje em São Luis, onde também funciona um ponto de cultura. Há tempos ouço falar do grupo e não por acaso, de uma forma indireta, vou acompanhando seus passos ao longo desses últimos meses. Segundo, Henrique, do Omnirá:

"o bloco foi criado da efervecência e discussões do movimento negro de São Luis, principalmente no Centro de Cultura Negra do Maranhão, com atuação na região de Cururupu. Assim, o GCNC - Grupo de Cultura Negra de Cururupu, por volta do ano de 1992, criou o bloco afro Abayomi (Encontro Feliz), com o objetivo de levar mensagens de protesto e conscientização, em especial sobre os trabalhadores rurais, que constituíam uma base forte para a agremiação. Tempos depois, por conflitos de ideias e interesses dentro do centro político do bloco, após o carnaval de 1994, surgiu o Omnirá (Liberdade, Independência). Anos mais tarde, sentiu-se a necessidade de ter uma entidade legalizada, com uma gama de ações e oportunidades dentro de arâmetros políticos, jurídicos e organizacionais. Com isso, foi criada a Associação Afro Omnirá Cururupu no ano de 1996, hoje com uma atuação mais restrita em São Luis, precisamente nos bairros Jordoa e Barreto".

Hoje o Omnirá desenvolve o projeto 'Raízes da África' e atua no desenvolvimento sociocultural de meninos e meninas, jovens e crianças daquela região, além de fazer parte dos circuitos tradicionais de São Luis e no interior do estado, no carnaval e no período junino. Já escutei o som dos meninos, já pude ter muitas conversas com um de seus integrantes e co-idealizador desse projeto e sinceramente, fico feliz de ver trabalhos como esses. Tenho uma visão um tanto 'à margem' sobre isso; talvez por ter podido ver esse tipo de atividade/entidades por diversos ângulos e esferas de poder.

O bacana nesses projetos é que, salvo algumas ongs e integrantes, uma boa leva realmente se empenha em fazer sua parte, em cumprir os objetivos traçados ao serem criadas, em mudar, ainda que pouco, a realidade de muitos. Um contínuo trabalho de formiguinha que, infelizmente (ou não!), não faz parte da gama de muitas entidades espalhadas pela 'terra brasilis'. Detalhe: é uma crítica construtiva. Não condeno ou desmereço quem, a partir dos grandes e pequenos fianciamentos, de órgãos municipais, estaduais e federais constrói sua história, alavanca seus 'formadores', tarimba muitos curriculos, abre muitas portas, como consequência das muitas articulações feitas. Não. Em nenhum momento. Faz parte do conjunto e seria até ilógico não fazê-lo (certo?); o problema é quando essas articulações (ou interesses) são maiores que os objetivos-chave. Enfim..ai já são outros 500 e fica para um outro post!

So...promessa cumprida, cdx?
Parabéns ao Omnirá e muitas jornadas ainda de batuques e trabalhos para essa garotada!

2 comentários:

algumas palavras disse...

Que bueno! Missão cumprida sim, gracias em nome do grupo! Fico a destacar o "trabalho de formiguinha". Hasta!

Unknown disse...

Projetos socioculturais têm grande relevância (principalmente) nas comunidades menos favorecidas pelo poder público.

Esquecendo, por hora, os que objetivam promover determinados grupos, esses projetos favorecem estreitamento de vínculos na comunidade local, podem gerar renda e funcionam como passaporte para a cidadania.