10.9.10

Profissionais de onde?

Eu disse que não escreveria sobre isso, mas uma conversa com uma amiga, tem 10 minutos, me fez mudar de idéia. E não, esse texto não é pra ser certinho ou mesmo suscinto. Simplesmente veio!
Falávamos sobre as eleições de outubro, os programas do governo e as políticas públicas. Talvez tenha sido o fato de ela falar que o constante trabalho em determinados espaços te endurecem quando o que está em jogo é o resultado final desse - que em sua versão significa dinheiro na conta no final do mês -, que me tenha provocado. E tudo começou por conta de uma experiência recente em uma comunidade rural...

Nos meus últimos contatos com um desses sítios, tive acesso a uma equipe médica que trabalha com o Programa Saúde da Famíla, do Governo Federal. Geralmente é formada por um clínico geral, um enfermeiro, um odontólogo e um auxiliar. A comunidade recebe a visita uma vez por mês dessa equipe, coordenada pelo agente de saúde local, que organiza sua chegada, avisando os moradores, organizando as consultas e etc. Até ai tudo bem. O que me deixou encucada, pra não dizer decepcionada/indignada foi o descaso que um deles mostrou com a comunidade.

Trabalhar com sítios rurais, de difícil acesso, isolados, com infraestrutura mínima ou inexistente, onde alguns 'sacrifícios (?)' tem que ser feitos para a realização dos trabalhos de forma satisfatória requer mais que profissionalismo (técnico, ético), mas principalmente desprendimento. Muitas vezes vão se deparar com faltas: saneamento, higienização, desinformação; ignorância (entendam no sentido correto!) entre outras coisas; com pessoas já debilitadas por uma vida de privações que só querem um atendimento digno e respeito. Vão ter que andar quilômetros no sol, porque o carro não consegue entrar mais; passar por caminhos arredios, porque um paciente mora afastado dos demais dentre uma infinidade de coisas.
Nesse caso específico, as condições eram até boas. Uma estrada nivelada e de fácil acesso, tempo pequeno até o sítio, local preparado para receber a equipe. Entretanto, o profissional que deveria estar ali para suprir, dentro do possível e cumprir sua função não só médica, mas também social, mal olhava para os seus pacientes, sequer sabia seus nomes e mal esses terminavam de falar o que sentiam, a receita já estava em suas mãos. Para se ter idéia, uma pessoa chegava com problema de pressão e recebia um encaminhamento de exames para problemas no ovário. Sem falar na grosseria...Como pode? Para alguém que trabalha a mais de um ano numa comunidade, o mínimo que se espera é que esse saiba, pelo menos, reconhecer uma boa parte de seus pacientes, olhar para eles enquanto falam, pois tem todo o dia ali só para atendê-los e a demanda não é tão grande.
Claro que não estou generalizando e há sim, equipes comprometidas que desenvolvem ótimos trabalhos. Mas a responsabilidade é só dele? Não. É do município, é do Governo, é minha, sua...

Fala-se muito no fomento a políticas públicas e etc etc etc. Ok. Mas políticas públicas sem um alicerce, um aparato que as configurem de forma a terem efeito de nada valem. É um trabalho conjunto e todos tem que fazer sua parte, incluindo a comunidade. Só tem uma coisa...esse tipo de trabalho requer de quem se habilita para o mesmo 'vestir a camisa' do projeto e TRABALHAR. Fazer por fazer, contanto que seu salário esteja no fim do mês na sua conta e a comunidade que se contente por ele estar lá, não adianta.
É no dia a dia com eles que se percebe como a demora e nulidade parcial desses programas se efetivam. Se for falar de outros como o Bolsa Família, então...não seria um texto, mas um livro. São bons programas, há bons profissionais, mas, em muitos casos, não se prepara a comunidade para esse programas, para essas políticas. Torno a repetir que é um trabalho em conjunto: Governo Federal, Estadual, Municipal , sociedade e por aí vai...

O mais incrível, pra não dizer 'gozado' disso tudo é que, falando do contexto no qual pesquiso, surpreenderia-se quem conversasse uns minutinhos com alguns moradores desses sítios. Eles compreendem mais e melhor desses Programas, dos pontos positivos e negativos e de como eles poderiam ser melhor aplicados do que muitos de nós, que nos formamos, pensamos e trabalhamos para elaboração, implementação e execução deles. Como diria meu queridissimo Borega, 'tudo está no princípio das intenções, minha cara'! Quem sabe?

3 comentários:

Wil disse...

Ótima publicação.
O assunto é relevante e ao mesmo tempo controverso.
Parabéns pelo blog.

kakashi disse...

legal o texto

parabens pelo blog

Marcus Alencar disse...

Entendo seu ponto de vista e imagino como deva ser essa realidade que é o descaso de profissionais da área da saúde com esse tipo de público. Infelizmente, trata-se de um vírus que alastra não só grande parte desses profissionais (nunca a maioria) mas de muitos outros que trabalham com serviço público no qual prestam algum atendimento. É lamentável. Fala-se em investir nesses profissionais mas também é preciso investir na formação humanista de muitos deles.

É um tema pertinente esse e você o abordou bem. Gostei do seu blog e obrigado por visitar o meu.
beijossss